Iniciativa pioneira na cidade de Salvador analisa o território da Península de Itapagipe no que se refere à apropriação e expropriação do espaço urbano e rural e o aprofundamento das desigualdades no enfrentamento a uma das categorias do racismo
Texto: Divulgação
Imagem: Reprodução Facebook
Um território formado por 14 bairros, dois distritos e uma população de aproximadamente 170 mil habitantes, sendo a maioria deles de pessoas negras (90%) e do gênero feminino. A Penísula de Itapagipe será o primeiro foco de estudo e análise do Observatório do Racismo Ambiental, que vai ser lançado nesta terça-feira (14), às 16h, através de atividade online com transmissão via Youtube. A iniciativa pioneira foi criada por organizações da sociedade civil e vem sendo realizada pelo Centro de Arte e Meio Ambiente (CAMA) e a Rede CAMMPI (Comissão de Articulação e Mobilização dos Moradores da Península de Itapagipe), com apoio do Fundo Casa Socioambiental, Casas Rios e Oceanos e a FASE.
O “território negro da Península de Itapagipe”, como evidencia os estudos do Observatório do Racismo Ambiental, é a primeira região que passou por uma análise sistemática realizada por uma equipe especializada em monitorar e produzir informações sobre a apropriação e expropriação do espaço urbano e rural, no processo histórico de ordenamento público desigual na Bahia. A equipe formada por profissionais da área da geografia, estatística e direitos humanos contou com o apoio de diversas organizações de movimentos sociais que atuam na região para preparar um documento que aponta para as desigualdades enfrentadas pelas populações que residem nas localidades em função do racismo ambiental.
O coordenador do Centro de Arte e Meio Ambiente (CAMA), Raimundo Nascimento, conta qual foi a motivação que levou o projeto a estudar a Península de Itapagipe como primeira ação do Observatório: “Diante dos dados podemos afirmar que Itapagipe é um território negro, feminino e com lideranças que constroem a luta e o enfrentamento a todas as formas de exclusão. É neste território que se constitui na década de 40 na cidade de Salvador a maior favela de palafitas das Américas – Alagados, talvez um dos maiores exemplos da operação do racismo sistêmico, revelado através da categoria do racismo ambiental”, salienta.
Durante o lançamento do primeiro estudo do Observatório do Racismo Ambiental, a equipe vai apresentar a metodologia utilizada para análise dos dados sobre o uso e ocupação do território da Península de Itapagipe. Também será abordado como as nuances do racismo ambiental, que é uma das categorias do racismo sistêmico, estrutura as políticas públicas no município pelos critérios de raça e cor, privilegiando a população branca, vulnerabilizando grupos étnicos-raciais e impossibilitando o acesso a direitos ambientais e sociais.
Ainda de acordo com Raimundo Nascimento, a metodologia aplicada pelo Observatório considerou três etapas: a primeira dela foi “Tecendo Redes de Racismo Ambiental”, que realizou oficinas de mobilização, articulação e formação com membros das diversas organizações sociais da CAMMP, de escolas locais, além de jovens, mulheres, homens, LGBTQI+.
Já a segunda etapa foi direcionada para um grupo menor, composto por dez integrantes, definidos na primeira etapa, que aprofundaram o debate sobre racismo ambiental. Construindo novos conceitos, conhecendo experiências e práticas de violação de direitos, territórios negros, os conflitos decorrentes do racismo e técnicas de pesquisa, georeferenciamento e produção de mapas temáticos.
A última etapa é o lançamento do Observatório do Racismo Ambiental, que culmina com a apresentação dos primeiros resultados da pesquisa e análise dos dados produzidos sobre o território da Península de Itapagipe.
SERVIÇO
O que: Lançamento do Observatório do Racismo Ambiental na Península de Itapagipe
Quando: Terça-feira, 14 de setembro, às 19h