Racismo, machismo, opressão social e uma série de práticas violentas e estruturais. Uma luta injusta e desigual, empreendida por séculos, em diversas formas e práticas de violência contra mulheres negras. Este ainda é o retrato do Brasil no século XXI. E para atrair o olhar da sociedade sobre as condições de exclusão em que as mulheres negras estão submetidas, o Julho das Pretas propõe uma agenda conjunta para debater o tema e buscar alternativas de enfrentamento para mudar esta realidade. E para celebrar o mês, o Centro de Arte e Meio Ambiente (CAMA) promove uma série de rodas de diálogo e atividades culturais gratuitas e abertas ao público.
Com o tema “Gênero, Patriarcado e as Mulheres Negras no Brasil”, as atividades propostas pelo CAMA integram a 10ª edição do Julho das Pretas, promovido pelo Odara – Instituto da Mulher Negra. Na quarta-feira (27), a partir das 14 horas, a roda de diálogos será realizada na Fábrica Cultural (fim de linha da Ribeira/Itapagipe) e contará com a presença de diversas organizações formadas por mulheres negras. Neste cenário, o Julho das Pretas configura-se como um espaço único e necessário de incidência e trocas entre as mulheres negras, trançando estratégias de enfrentamento ao racismo e a todos os tipos de violências.
O Julho das Pretas conta com cerca de 427 atividades realizadas por mais de 200 organizações de mulheres negras em todo o Brasil, incluindo a Bahia, além de ações realizadas em Paris (França). A edição de 2022, com o tema “Mulheres Negras no Poder, Construindo o Bem Viver”, marca os dez anos de realização do Julho das Pretas e os 30 anos do Dia Internacional da Mulher Negra Afro-Latina-Americana e Caribenha, comemorado na segunda-feira (25/07).
Sobrevivência das mulheres negras – Mesmo na contemporaneidade, o Brasil ainda reproduz a heranças de práticas culturais e estruturais do racismo, do colonialismo e dos quase 400 anos de escravidão em que negras e negros foram sequestrados da África e trazidos, à força, para o Brasil como mercadoria. É urgente romper este ciclo para promover dignidade e respeito a essa parcela da população, além de exigir uma atuação efetiva do poder público na promoção de políticas públicas de proteção à mulher negra.
A coordenadora-geral do CAMA, Andreia Araujo, ressalta que a iniciativa empreendida pelo Julho das Pretas, essencialmente, busca espaços para pensar estratégias de sobrevivência das mulheres negras, sobretudo nesses tempos difíceis. “Nós, mulheres negras, sempre fomos maioria da população, porém, não estamos em espaços estratégicos de decisão e poder. Vivemos em uma sociedade patriarcal e precisamos, juntas, traçar estratégias para mudar essa realidade”, defende.
Para Ana Carine Nascimento, assessora técnica do CAMA, é importante envolver toda a sociedade nestes espaços para construir ações de união e fortalecimento voltados para as mulheres negras. “Nas rodas de diálogo propostas por nossa instituição, vamos discutir as questões de gênero e patriarcado e entender como isso influencia na vida das mulheres negras deste País. Além disso, a atividade visa fortalecer as mulheres negras para que elas possam atuar como protagonistas na efetivação dos seus direitos”.
Luta contra a violência e o racismo estrutural – Para as dirigentes do CAMA, esta não é uma luta exclusiva da mulher negra, mas de todas, todos e todes que desejam uma sociedade mais justa, igualitária e antirracista. Andreia Araujo e Ana Carine Nascimento ressaltam que, numa sociedade racista e excludente, os projetos e ações promovidos pelo CAMA são um alento no enfrentamento ao racismo, sexismo, lesbtransfobia, genocídio e feminicídio. O Centro também atua no fomento de ações para o fortalecimento e empedramento das mulheres negras na Bahia.
Desigualdade racial no Brasil em dados – A desigualdade provocada pelo racismo no País é latente e comprovada em diversos espaços, um exemplo são os postos de trabalho ocupados pelas mulheres negras. O relatório “A Inserção da população negra e o mercado de trabalho”, produzido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), aponta que, além de o desemprego entre as mulheres negras ser o dobro que o dos homens brancos, as que conseguem uma ocupação têm os piores salários, geralmente em trabalhos precarizados.
Nas ocupações precárias, o índice é de 46% entre as mulheres negras, já a subutilização da força de trabalho impacta 40,9% dessas mulheres. Neste universo, somente 1,9% destas mulheres ocupam algum cargo de direção nas empresas brasileiras. Já os dados divulgados pelo IBGE (2021), apontam que 45% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres e em 63% destes lares, as chefes são mulheres negras, que estão abaixo da linha da pobreza.
Diante de realidades como esta, o Julho das Pretas propõe uma ação de incidência política e agenda conjunta e propositiva com organizações e movimento de mulheres negras do Brasil. Todos os anos a iniciativa aborda temas necessários, relacionados à superação das desigualdades de gênero e raça, colocando a pauta e agenda política das mulheres negras em evidência.
Confira a nossa agenda de atividades do Julho das Pretas:
Tema: Gênero, Patriarcado e as Mulheres Negras no Brasil
Abertura: Coral Mulheres de Alagados
• Dia 21/07 (quinta-feira), às 13 horas
Local: Teatro Artesão da Paz, na sede da ACOPAMEC (Mata Escura);
• Dia 23/07 – (sábado), das 9h30 às 17 horas
Local: CEASA (Residencial CEASA I);
• Dia 27/07 – (quarta-feira), às 14 horas
Local: Fábrica Cultural (fim de linha da Ribeira/Itapagipe).
Sobre o Centro de Arte e Meio Ambiente – O CAMA é uma organização socioambiental fundado em 1995, no bairro dos Alagados, em Salvador/Bahia. Desenvolve programas e projetos associados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), referenciados pela Agenda 2030 da UNESCO. O objetivo é fortalecer a luta por garantia de direitos de indivíduos e grupos vulnerabilizados, por meio da participação nos processos que proporcionem autonomia e inclusão sociopolítica, contribuindo para a construção de uma sociedade social e economicamente justa, democrática, ambientalmente equilibrada, antirracista, antissexista e contra todas as formas de exclusão.
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Texto: Marcos Paulo Sales (Jornalista DRT/BA 2246)
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