O que a COP 27 agregou às discussões do Novembro Negro?

Moradores de construções insalubres são os mais afetados em situação de desequilíbrio climático,

caracterizando o racismo ambiental

O mês de novembro vai finalizando e pontuando a necessidade de algumas pautas tornarem-se temas de uma agenda social permanente. Se, há algum tempo, já concluímos que as discussões sobre políticas afirmativas e a dívida histórica que esse país tem com o povo negro não cabem em um único mês, é preciso reorganizar as estratégias a fim de combater todos os aspectos do racismo durante todo ano. Uma agenda em específico ganhou os holofotes nesse mês que se encerra: entre os dias 7 e 20 aconteceu em Sharm El Sheikh, no Egito, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022, mais conhecida como Conferência das Partes da UNFCCC, ou COP 27. Os países participantes debateram sobre adaptação climática, mitigação dos gases do efeito estufa, colaboração para conter o aquecimento global e o impacto social e financeiro dos desastres climáticos.

E é quando tratamos desses impactos ambientais sobre as populações que a questão racial nos atravessa em cheio: historicamente ao povo negro tem sido negado, entre tantos outros, o direito à moradia digna. A COP 27 nos apresentou e/ou aproximou de termos como o racismo ambiental quando, entre outros aspectos, em um eventual desastre climático, são atingidas diretamente comunidades mais vulneráveis como as quilombolas, as comunidades ribeirinhas, os moradores de encostas, morros, favelas que, não raro, são comunidades formadas, em sua maioria, por pessoas pretas e/ou pardas.

A participação do Brasil foi e é altamente relevante nesse espaço por trazer à pauta questões como justiça climática e racismo ambiental, temas urgentes para sociedade civil brasileira, e que demonstrou, que para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, é necessário priorizar povos originários, quilombolas e negros, considerando os impactos sofridos a essas comunidades.

Se da Conferência anterior para a COP 27 pouca coisa avançou, na opinião de especialistas, e em linguagem de futebol, aproveitando o clima de Copa do Mundo, o golaço foi marcado nos acréscimos com a criação de um fundo de perdas e danos para beneficiar os países mais vulneráveis às mudanças climáticas. A decisão, considerada histórica, ainda traz muitas dúvidas a respeito dos mecanismos de financiamento e das formas de acesso aos recursos que devem socorrer especialmente países ameaçados pelo aumento do nível do mar, migrações forçadas por desastres naturais e outras consequências das mudanças do clima.

São pactos que evoluem a passos muito lentos uma vez que precisam atender diferentes interesses dos diversos países envolvidos. De qualquer maneira, o apoio a comunidades mais vulneráveis era uma demanda histórica dos países em desenvolvimento, e uma discussão presente nos debates sobre mudanças climáticas desde a Eco 92, realizada na capital carioca em 1992. É válido, ainda, ressaltar que os países mais pobres, apesar de contribuírem muito pouco para as emissões de gases de efeito estufa que causam o aquecimento global, costumam sofrer as maiores consequências do desequilíbrio do clima.

E como costurar um evento acontecido num país africano a nossas questões cotidianas? Os debates da Conferência estão muito próximos de nós, em nossa realidade sem, contudo, ter até então, essa nomenclatura. Se pensarmos na contextualização do racismo ambiental nos enxergamos em nossas necessidades básicas como moradia digna, segurança alimentar, direito à cidade. Ou, em verdade, a ausência de tudo isso que nos acompanha há séculos.

Então quando essas agendas se cruzam em um mês tão emblemático para nossas lutas vale a reflexão que os dias se esgotam e as questões seguem e são herdadas de outros anos, outros tempos, outros espaços. É preciso avançar mais. E esse progresso só vem quando trazemos essas questões todos os dias porque todos os dias o racismo nos afronta no trabalho, nas filas, nas escolas, nas universidades, nos bares. Vamos pautar as estratégias antirracistas pelos 12 meses, ano após ano, até termos nossos direitos acessados e nossa história respeitada.

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