Salvador vence prêmio internacional de sustentabilidade, mas ainda não possui contrato para coleta seletiva

Capital baiana ainda não cumpre uma das determinações da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que completou 15 anos em 2025

Salvador venceu o prêmio Local Leaders Awards 2025, promovido pela Bloomberg Philanthropies e pela C40 Cities, apresentado no Fórum de Líderes Locais da COP30, nesta terça-feira (4), com o projeto “Recicla Capital”, na categoria “Soluções Sustentáveis para Resíduos”. O reconhecimento internacional destaca a capital baiana entre as cidades que buscam soluções inovadoras para os desafios ambientais e urbanos do século XXI.

O Recicla Capital é uma iniciativa da Prefeitura de Salvador que conta com estações de coleta distribuídas pela cidade, onde moradores podem entregar materiais recicláveis e acumular benefícios. Apesar de incentivar a separação de resíduos na fonte, o programa não integra catadores e catadoras de materiais recicláveis autônomos, tampouco cooperativas e associações da cidade que não foram contempladas no edital.

Apesar do destaque, a realidade da coleta seletiva em Salvador ainda revela um contraste importante. A cidade não possui contrato público efetivo para a execução da coleta seletiva, que segue sendo realizada, em grande parte, por cooperativas, associações e catadores (as) de materiais recicláveis autônomos (a), todos sem remuneração municipal pelos serviços prestados.

Esses trabalhadores e trabalhadoras garantem, com esforço próprio, que toneladas de resíduos recicláveis não cheguem ao aterro sanitário. Um trabalho silencioso e essencial, que mantém viva a prática da reciclagem na cidade, mesmo sem o apoio institucional necessário.

Política Nacional de Resíduos Sólidos

A ausência de contratos públicos que reconheçam e remunerem os serviços ambientais prestados por esses trabalhadores (as) contraria o que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), que determina a integração dos catadores (as) de materiais recicláveis às ações de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.

Para uma capital que foi a primeira do Brasil e hoje ganha destaque internacional por suas iniciativas sustentáveis, o desafio é transformar o reconhecimento em política pública permanente, assegurando que a gestão dos resíduos sólidos seja, de fato, sustentável, inclusiva e continuada.

A remuneração municipal de cooperativas e associações é uma das políticas defendidas pelo Centro de Arte e Meio Ambiente (CAMA). Em outubro, o CAMA, em parceria com o Fórum Estadual do Lixo e Cidadania (FLC-BA) e o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), reuniu líderes de cooperativas, associações e catadores e catadoras de materiais recicláveis autônomos e cooperativados de diversos municípios do estado, com o objetivo fortalecer o trabalho da categoria, além de ampliar o diálogo sobre políticas públicas que garantam dignidade, direitos e cidadania.

Durante o 2° Encontro Estadual de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis da Bahia: 3Rs (Respeitar, Reconhecer e Remunerar) para promoção dos direitos humanos e cidadania, realizado em outubro, lideranças do setor reforçaram a necessidade de que as prefeituras contratem cooperativas e associações de catadores(as) de materiais recicláveis para a execução da coleta seletiva. Entre os encaminhamentos do encontro, destacou-se a importância de políticas públicas que garantam remuneração justa, direitos, cidadania e fortalecimento da categoria em todo o estado.

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